Histórico
Histórico
A vivissecção não é um horror recente em nossa sociedade. Ela existe há séculos, embora tenha evoluído em sua forma. Sempre houve abundância de corpos, tecidos e sangue humano, que poderiam ter sido utilizados para uma melhor compreensão da anatomia humana e dos processos patológicos e fisiológicos. Entretanto, no Ocidente, onde o Catolicismo comandava a sociedade, decretos papais proibiram a realização de autópsias.
No segundo século da era cristã, um médico romano chamado Galeno realizou incontáveis experimentos em animais e gerou mais de 500 tratados sobre a fisiologia animal.
As falsas hipóteses de Galeno – declarando que os animais possuem a mesma fisiologia dos humanos – contribuíram para fazer com que o homem mergulhasse no “Período das Trevas”, como é conhecida a Idade Média pela estagnação intelectual que reinou durante esse período.
Durante o Renascimento, quando a inquietação intelectual superou o poder da Igreja, a realização de autópsias foi retomada e só então foram constatadas as imprecisões determinadas por Galeno e seu modelo animal, que haviam prevalecido por cerca de 1.300 anos. Pela primeira vez, a comunidade médica começava a compreender as verdadeiras causas das doenças.
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Em meados do século 19, um dramaturgo fracassado chamado Claude Bernard, adotou a experimentação animal, realizando um número incontável de experimentos. O grande volume de dados – precisos ou não – resultante dessas atividades acabou criando um mercado para a experimentação animal. A pesquisa médica havia começado a crescer e atingir áreas não diretamente relacionadas à prática médica. Em outras palavras, as pessoas que não podiam se estabelecer como médicos, poderiam se estabelecer e viver da experimentação animal, como vivissectores, e influenciar o avanço da pesquisa médica. Na verdade, a experimentação animal gerou tal abundância de conclusões que, muitas
vezes, elas chegavam a obscurecer evidências em seres humanos que provavam o contrário.
Em pouco tempo, os vivissectores estavam pedindo – e recebendo – dinheiro por suas pesquisas. Os criadores de animais começaram a ter muito lucro, e os fabricantes e fornecedores de equipamentos também apreciaram a expansão desse mercado. Apesar das enormes disparidades nos resultados entre os próprios animais e entre animais e seres humanos, a crescente indústria era vista como provedora de informações úteis para o estudo das doenças. Na década de 1930, uma única ocorrência de uma droga que afetou um animal e um ser humano do mesmo modo, fez com que o modelo animal se tornasse uma rotina, também no desenvolvimento de medicamentos. Mas os mesmos problemas persistiam: diferentes espécies de animais reagiam de modo diferente às mesmas substâncias.
Mas a indústria farmacêutica estava a todo vapor, estreitando seus laços com as universidades e gerando mais resultados para gerar mais lucros. O desastre da Talidomida, um medicamento contra o enjôo que causou deformidades em quase 15 mil fetos, fez com que o congresso americano buscasse uma forma de garantir aos consumidores a segurança dos medicamentos. Essa garantia foi a experimentação animal – ignorando que a Talidomida havia sido testada em diversas espécies, sem provocar efeitos semelhantes ao que provocou em humanos.
Ao determinar que todas as drogas fossem testadas em animais antes de serem comercializadas, o governo, influenciado por interesses de outros grupos, criou uma salvaguarda legal para as empresas interessadas mais em lucros do que no bem-estar dos pacientes. Desde então, quando envolvidas em alguma ação legal, elas se defendem, alegando que realizaram todos os testes exigidos por lei. Certamente, essa segurança legal contribuiu
muito para que acontecessem abusos em nome da ciência através da experimentação animal.