A Carne (ainda) é Fraca
Não é exagero dizer que “A Carne é Fraca”, documentário produzido pelo Instituto Nina Rosa, em 2004, plantou uma semente no movimento pela libertação animal no país.
Ainda na era do VHS, foi se alastrando pelo Brasil de cópia em cópia, entrando em universidades, chegando à sala das famílias e até criando bases para grupos de ativismo vegetariano.
Pela primeira vez, o brasileiro teve acesso ao que acontece dentro de um matadouro em uma obra didática, que reúne especialistas para falar sobre as consequências das nossas escolhas para o planeta e trazer soluções, derrubando mitos sobre a nutrição vegetariana.
Com cenas fortes e necessárias, “A Carne é Fraca” foi o empurrãozinho que faltava para muita gente se tornar vegetariano e espelhar a ideia com uma cópia a mais do DVD.
A obra pode ser assistida na íntegra no YouTube.
Vidas ceifadas em 2022
Sem contar os búfalos, cavalos, jumentos, codornas, coelhos, perus, ovelhas, patos, gansos, entre tantos outros.

É preciso coragem para fazer o bem, mas também é necessário resiliência para entender que, 20 anos depois, continuamos comendo o planeta, cada vez mais rápido, e precisamos novamente jogar luz sobre algumas questões que ninguém quer ver e muitos querem esconder.
20 anos de uma história que precisava ser contada
Há 20 anos “A Carne é Fraca” denunciava a cruel realidade dos matadouros no país colocando paredes de vidro no que a indústria não queria que o consumidor médio visse. Por efeito, ajudou a estruturar as bases do movimento vegetariano brasileiro, que saiu de meia dúzia de entidades protetoras dos animais para milhares de projetos, ongs, grupos de estudos e de ação direta.
Mas se engana quem vê as centenas de opções de carnes vegetais high-tech, restaurantes com opções veganas, selos de certificação e cada vez mais gente falando sobre o tema, e pensa que a máquina de matar animais e fazer dinheiro tenha desacelerado nos últimos 20 anos.
Em 2000, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal, do IBGE, éramos 169 milhões de brasileiros, 169 milhões de bois e 183 milhões de aves.
Hoje, o rebanho de bois chega ao seu maior número desde a série histórica iniciada em 1974, são 234 milhões de cabeças de gado, mais 44 milhões de porcos. No segundo trimestre de 2022, foram abatidos 1,5 bilhões de frangos.
Uma máquina não só de matar animais, como de fazer dinheiro. Os produtos da pecuária brasileira, em 2022, geraram R$116 bilhões.
As maiores empresas mundiais de produção de “proteína animal” (para emprestar um termo da indústria usado despersonalizar os animais) são brasileiras. Megaconglomerados capazes de abater 40 mil bois por dia e garantir a exportação para a Europa e Oriente Médio. Viramos o quintal do mundo.
Um quintal que precisa de espaço. Biomas como a Amazônia e o Cerrado foram pressionados pela pecuária, que derruba e ateia fogo na floresta para plantar pasto e garantir o hambúrguer de alguns poucos na Europa ou China.
Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, publicado em 2021, entre 1997 e 2020 foram destruídos 21 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia, o equivalente ao estado do Paraná. Deste montante, 75% virou pasto.
“A Carne é Fraca” veio para revelar aquilo que não é divulgado: a crueldade nos abatedouros. Mesmo naqueles considerados de “abate humanitário”.

