“Tudo começou muito antes dela.
Estava com duas cadelas resgatadas do CCZ-SP: uma que no resgate constava na ficha 17 anos, a Melina. Outra, que no resgate já tinha uma otite crônica impressionante, a Brida.
Na época a que me refiro, já estava cuidando delas há pelo menos cinco anos, ambas já idosas, quando quis o Universo que elas partissem com cerca de 45 dias de intervalo. Aí fiquei sem cachorro, o que havia muitos e muitos anos não acontecia, pois sempre convivia com vários em casa.
Então veio o sentimento de perda, sem paliativo. Chorei, chorei e chorei. Por todos os animais com quem convivi. Tantos que tanto amei e ‘perdi’.
Foi muito difícil encarar a realidade sem bicho. Eles são o depositório de meu amor. Mas precisei ficar um tempo em contato com minha dor, conhecer melhor meus sentimentos mais profundos.
Então, um dia, estava no computador e vi a mensagem de uma protetora que atua na zona extremo sul de São Paulo, relatando a realidade de uma cadela que estava ‘ilhada’ (pessoas atravessam a balsa com animais que querem descartar e os deixam lá, sem conseguir voltar, comendo lixo, quando encontram). Patrícia, essa corajosa protetora, tinha um olhar para eles, levava ração quando possível e trazia algum para esterilizar e promover adoção.
Ela descrevia em seu relato a situação de uma cadela, única fêmea na ocasião, que vivia fugindo dos machos.
Pedi a ela para resgatar a ‘menina’ e levar para mim, que a adotaria. Então ela começou a chamar a cadela de Nina, referindo-se a quem iria adotá-la. Gostei da homenagem e assim ficou até o fim dessa sua passagem por aqui.
Nina tinha o hábito de, durante a chuva, procurar uma árvore para se abrigar. Mas logo percebeu que tinha uma casa e uma tutora, e que era amada.
Ficamos muito ligadas. Poucos anos depois, apareceu uma artrose e ela se tornou cadeirante. Ganhamos um carrinho da Ruth (da União SRD) e ela literalmente ia comigo para todo canto. Assim convivemos com muito amor por mais de oito anos, com felicidade e saúde — graças à homeopatia —, até que um AVC hemorrágico a levou em apenas dois dias. Melhor para ela, que não ficou sofrendo.
Optei pela cremação no Santuário dos Pets, que atendeu com muito respeito e sensibilidade, o que foi importante também para mim, nesse momento em que me sentia perdida.
Tenho as cinzas dela espalhadas em alguns locais preferidos por ambas e também em um saquinho de pano pendurado na minha cama.
Mas ela está, mesmo, é em meu coração. E está bem porque também estou bem.
Dessa vez não fiquei chorando mais de um mês, e corri ao Centro de Adoção da Natureza em Forma para adotar a mais velhinha (como eu) que tivessem. Ela se chama Suzi.”
Depoimento de Nina Rosa
Fotos: Arquivo pessoal
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