Pular para o conteúdo

O navio Al Kuwait, que parou a Cidade do Cabo pelo cheiro nauseabundo, está em São Sebastião para novamente embarcar animais

O navio Al Kuwait, transportador de gado, que em fevereiro deste ano parou a Cidade do Cabo, na África do Sul, devido ao forte odor, está de volta ao Brasil. Na época, a embarcação, saída do Porto do Rio Grande (RS) com 19 mil bois, depois de 15 dias, atracou na Cidade do Cabo para abastecer e embarcar comida e mais água para os animais. Mas o cheiro que assolou o local logo teve sua origem descoberta: o navio com tantos animais era o responsável pelo desconforto olfativo que as pessoas estavam sentindo. Afinal, durante todos aqueles dias, os quase 20 mil bovinos estavam urinando e defecando dentro do navio. Quando os ativistas e veterinários entraram na embarcação, observaram que em alguns dos currais havia “lama” dessa mistura até o topo dos cascos, conforme informou o Conselho Nacional de Sociedades para a Prevenção da Crueldade contra Animais da África do Sul (NSPCA, sigla em inglês).

O Al Kuwait está desde 13 de abril fundeado em São Sebastião, mas apenas ontem (13 de maio), um mês depois, atracou para iniciar o embarque dos animais. A previsão é de embarque de 15 mil animais. Esse é o quarto navio boiadeiro que atraca no Porto de São Sebastião neste ano para a exportação de gado em pé, como é conhecido esse tipo de atividade. Os animais serão levados por quase um mês em viagem transatlântica para serem abatidos, após tantos dias de sofrimento.

Recentemente, o Projeto de Lei 02/2024, que proibia o transporte de animais pelo município de São Sebastião, de autoria do vereador Marcos Fuly (DEM), atual presidente da Câmara de Vereadores, foi arquivado por sete votos a quatro. Uma pesquisa realizada sobre a atividade mostrou que 91% da população da localidade é contra o embarque de animais vivos através do porto de seu município; apenas um quarto dos entrevistados se disse favorável à atividade. A grande maioria das pessoas se mostra contra esse tipo de transporte por visualizar o sofrimento animal.


O meio ambiente em risco


Mesmo assistindo ao imenso sofrimento do estado do Rio Grande do Sul com as cheias, esse tipo de atividade que degrada o meio ambiente continua sendo permitida, conforme alerta a advogada animalista Leticia Filpi. O estado gaúcho já estava sofrendo com a enchente, em 4 de maio, quando 25 mil bois foram embarcados pelo Porto do Rio Grande no navio NADA, o mesmo que, em 2018, foi impedido de zarpar por liminar requerida por organismos de defesa animal.

“O estado de São Paulo e o município de São Sebastião estão presenciando a destruição e o risco ambiental que essa atividade [exportação de bois] representa, e não fazer nada é chocante! É um absurdo ver o poder público presenciando esse atentado, essa afronta ao direito da população ao meio ambiente equilibrado, aos direitos dos animais, absolutamente maltratados. Existem provas fartas dos maus-tratos aos animais ocorridos nesses embarques. Há estudos comprovando que os navios não são preparados para o transporte de animais. Há uma gama de provas de insubordinação a inúmeros direitos. É o risco ambiental marinho, é o risco ambiental às unidades de conservação do entorno, é o risco ambiental do mangue do Araçá que será totalmente destruído, com consequências imprevisíveis. E a gente vê o poder público assistindo e muitas vezes, inclusive, incentivando essa atividade que é uma afronta a direitos, a direitos fundamentais humanos, aos direitos dos animais, aos direitos da terra, ao direito à saúde pública. O pior de tudo é que eles, embora eleitos pela população, não a ouvem. A população de São Sebastião, na Câmara de Vereadores, afirmou que é contra os embarques de animais vivos na cidade, por tudo o que foi citado e também pelos danos psicológicos e emocionais de ver os animais sofrendo sem poder fazer nada. Esse sentimento de impotência, de compaixão pelos animais, que estão ali sofrendo, pois eles passam nos caminhões, a população vê e sofre junto com eles, e o poder público simplesmente ignora tudo isso. Então definitivamente algo precisa mudar urgentemente”, afirma a advogada.

O documentário Exportação Vergonha, lançado em julho de 2022 pela ONG Mercy for Animals (MFA), narrado em português pela ativista Luisa Mell e disponível no YouTube, documenta o sofrimento dos animais nesse tipo de transporte. Por três a quatro semanas, milhares de bois ficam confinados nos navios, imersos em urina e fezes. Acredita-se que mais de 10% deles não resiste à viagem, e seus corpos acabam sendo lançados ao mar, em mais um crime ambiental gravíssimo.

O que mais falta para a “Exportação Vergonha” chegar ao fim, e finalmente esses animais serem acolhidos pelo poder público e pela justiça brasileira?

Contatos

Janine Koneski de Abreu, jornalista
SC 00348JP
(48) 999 697 011

Leticia Filpi, advogada
(11) 941 893 431

Melina Prestes, ativista da causa animal em São Sebastião
(11) 981 824 948

João Carlos Pereira Júnior, ativista da causa animal em São Sebastião
(12) 996 773 500

FONTE: Janine Koneski de Abreu

[ATUALIZAÇÃO]

Eles foram embarcados no dia seguinte, 15 de maio.

1 comentário em “O navio Al Kuwait, que parou a Cidade do Cabo pelo cheiro nauseabundo, está em São Sebastião para novamente embarcar animais”

  1. O que surpreende nesta prática comercial cruel consiste na permissividade para agir ao arrepio da Lei 9605/98, do Decreto 24.645/34 e da CF, que veda a submissão de animais à crueldade. Significa que um órgão do Poder Executivo -MAPA- está livre para desafiar o regramento jurídico e autorizar os embarques, apesar destes, comprovadamente, submeterem os animais à longa tortura?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *