Pular para o conteúdo

Sapo-cururu na beira do rio

“Sapo-cururu na beira do rio…” Aqui na RPPN e ASAS Nina Rosa não encontramos esse cururu na beira do rio, conforme a popular canção infantil. O biólogo Daniel Moura e Gustavo Demange, diretores do INR, estavam fazendo uma faxina na garagem de ferramentas quando depararam com ele.

A vida do sapo-cururu, infelizmente, é menos idílica do que na canção. Ele é vítima da violência humana por preconceito e ignorância. E ingratidão, já que ele nos protege. “Imune ao veneno de escorpião, ele preda esses bichos e fica ao redor da sua casa fazendo uma ‘limpeza’ enquanto você dorme. Ele sai à noite, encontra escorpiões, cobras peçonhentas pequenas, um filhote de jararaca, de coral”, explica o herpetólogo (especialista em répteis) Willianilson Pessoa em entrevista ao g1.

É o ciclo natural. Não é um animal dotado de uma inteligência um tanto superior e de “racionalidade” que, movido por ganância financeira, aprisiona, tortura e mata em larga escala — com uso dos mais diversos instrumentos e outros meios artificiais — animais que considera inferiores (ou que somente os consome sem qualquer empatia pelo terrível sofrimento que passaram esses seres sencientes). E, no caso do cururu, ele é um animal “irracional” que, seguindo seu curso na natureza, ainda que sem saber protege o animal “racional”, que o mata por considerá-lo perigoso ou simplesmente por algum motivo fútil.

Aos fatos

O cururu realmente tem uma glândula que expele veneno, mas ele só faz uso desse recurso quando algo entra em contato com sua pele. Ou seja, humanos só serão mortos por cururus se os comerem, e sem nenhum preparo. Os hábitos necrófagos do bicho-homem ainda não chegaram a esse ponto. Cachorros e gatos, por sua vez, podem morder um sapo, mas provavelmente não se alimentarão dele. O perigo seria se mordessem a glândula excretora do veneno. Então mantenhamos nossos bichos de estimação longe de sapos, assim como os mantemos longe de plantas venenosas, por exemplo. “Cada um no seu quadrado”, conforme outra canção popular, mais moderna.

“O sapo-cururu fica ao redor de casa e, quando entra na água do cachorro ou come a ração, as pessoas gritam, ficam com medo, jogam sal nele. Eu recomendo não fazer isso. O sapo-cururu é um enorme aliado, assim como o gambá, o timbu, o saruê”, destaca Willianilson Pessoa.

Fora isso, matar ou mutilar um sapo — ou qualquer outro animal — para uso em rituais de qualquer tipo, convenhamos que é o sacrifício de um ser inocente, uma barbaridade sem sentido. Jogar sal por “brincadeira”? Para ver o que acontece? Por considerá-lo feio? Crueldade simplesmente, e vale lembrar que maus-tratos aos animais é crime, de acordo com a Lei no 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais) — veja aqui como denunciar.

E o sapo-cururu protege não apenas o ser humano, mas também faz bem para a Natureza — o que, no final das contas, acaba beneficiando também e novamente o ser humano. O herpetólogo ouvido pelo g1 observa que “em ambientes agrícolas, quando nativa, a presença da espécie pode acarretar uma redução na necessidade de pesticidas, promovendo práticas mais sustentáveis e ecológicas”.

Respeito às vidas

Todos os animais são importantes para o planeta. E merecem ser respeitados e viverem suas vidas. O cururu que estava na garagem provavelmente estava ali de passagem, e seu “despejo” com a faxina o levou para um lugar mais de acordo com seus gostos. Ele foi deixado próximo à horta, onde há uma tubulação que escoa água da chuva, algumas pedras, frestas etc., então ele teria opções sobre onde ficar, o que é parte importante do manejo de animais. Segundo Daniel, ele escolheu o tubo com chuveiro.

Fotografia tirada com o intuito de dar uma noção de escala,
mas poderia também ser vista como metáfora da viável coexistência harmônica entre animais não humanos e animais humanos

Fotos: INR/Divulgação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *