Primeiramente, gostaria de expressar meu profundo pesar por todas as vidas perdidas e afetadas pela catástrofe que tem devastado o Rio Grande do Sul nos últimos dias. É verdadeiramente uma tragédia anunciada em tempos de alteração climática.
Infelizmente, essa histórica enchente no estado mais ao sul do Brasil é um prenúncio sombrio de outros eventos similares ou mais graves que devem ocorrer com maior frequência em todo o país e no mundo.
Uma parte expressiva das pessoas, das instituições governamentais e não governamentais, dos políticos, dos governos e da imprensa tradicional frequentemente atribui a responsabilidade pelas variações climáticas aos outros, enquanto se desvincula de qualquer contribuição própria para o alarmante fenômeno.
Precisamos encarar este momento com consciência e coragem para, quem sabe, minimizar o sofrimento iminente que se apresenta diante de nossas vidas.
A perversa indústria pecuária é uma das principais causadoras das mudanças climáticas, exercendo um impacto devastador no meio ambiente e causando um holocausto sem fim.
Por décadas e décadas, o desmatamento para a criação de pastagens e cultivo de alimentos para os, desprezadamente, chamados animais de produção, tem destruído ecossistemas preciosos, liberando enormes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera — além das emissões de metano resultantes da digestão dos animais e da decomposição de seus cadáveres, que representam uma fonte significativa de gases de efeito estufa.
Atentando também para a desertificação dos solos provocada pelo pisoteamento dos animais e a contaminação dos lençóis freáticos e aquíferos subterrâneos resultada dos excrementos cheios de antibióticos, medicamentos, pesticidas desses pobres animais intoxicados.
A produção de carnes e de outros produtos de origem animal requer extensas áreas e o uso maciço de recursos naturais já bastante escassos.
E para quem não sabe, a criação de animais para consumo ocupa, segundo matéria publicada na revista Época Negócios, 75% das terras aráveis do planeta, apesar de contribuir apenas com 12% das calorias consumidas globalmente.
E esse é um dos motivos pelo qual podemos também explicar o drama famélico. Apesar de termos um grande excedente calórico produzido anualmente, milhões de pessoas continuam morrendo, todos os anos, em decorrência da fome, porque grande parte dos grãos produzidos é para alimentar animais.
No Brasil, milhões de hectares de vegetação nativa, incluindo áreas sensíveis como a Amazônia e o Cerrado, foram sacrificados para dar lugar a pastagens e plantações de grãos, como a soja, majoritariamente destinada à alimentação dos animais que serão mortos para consumo humano.
Essa exploração desenfreada dos recursos naturais não apenas ameaça a biodiversidade e os ecossistemas, mas também contribui para a nossa própria destruição.
Além dos danos ambientais, a indústria pecuária é marcada pela exploração e crueldade contra os animais. Milhões deles (confinados ou não) vivem em condições insalubres, sofrendo abusos físicos e psicológicos ao longo de suas vidas curtas e sofridas.
O tratamento desumano e a falta de consideração pelos interesses e necessidades dos animais são uma violação clara dos direitos animais e da ética.
Já em 2015, um relatório divulgado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e pela Agência Alemã para a Cooperação Internacional destacou os altos custos associados à pecuária no Brasil.
De acordo com os dados, para cada R$ 1 milhão de receita gerada pelo setor, eram jogados fora impressionantes R$ 22 milhões devido à perda de capital natural e outros danos ambientais. Além disso, as operações de abate (assassinato) e processamento de animais acarretam um impacto ambiental que é 371% maior do que a receita que geram para o país.
Esses números comprovam os impactos negativos da atividade pecuária na preservação do meio ambiente e na própria sustentabilidade econômica do país.
A ciência igualmente respalda a necessidade urgente de mudança nos hábitos alimentares. Estudos mostram consistentemente que a transição para uma alimentação baseada em plantas é uma das formas mais eficazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, preservar recursos naturais e combater as mudanças climáticas. O vegetarianismo estrito também contribui para a saúde humana, reduzindo o risco de doenças crônicas.
É preciso reconhecer as terríveis consequências da indústria pecuária e tomarmos medidas concretas para mudar nossos padrões de consumo.
A dissonância cognitiva entre a condenação do desmatamento e o consumo de carne e de produtos associados à degradação ambiental reflete a falta de alinhamento entre valores ambientais declarados e o comportamento prático e consciente.
Promover uma cultura alimentar mais consciente, baseada em alimentos de origem vegetal, além de uma escolha ética, é uma necessidade urgente para garantir um futuro sustentável para todos nós — humanos e não humanos —, para o nosso planeta.
A adoção do veganismo, independentemente de qualquer discordância filosófica ou pessoal, é uma estratégia essencial em meio às circunstâncias prementes que enfrentamos atualmente. É um imperativo prático para abordar os desafios ambientais e de segurança alimentar que permeiam nossa sociedade contemporânea.
Sem o reconhecimento e a implementação efetiva do veganismo, as ações em direção à sustentabilidade e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas são meras palavras vazias da retórica daqueles, inclusive e principalmente, que atuam em defesa do clima.
Fonte: ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais (texto de Silvana Andrade)
NOTA DO INSTITUTO NINA ROSA
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