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União Africana proíbe o comércio de pele de jumento: um primeiro passo por esses animais

Foto: Pixabay

O comércio da pele de jumento está proibido em todo o continente africano. A decisão foi tomada no domingo, 18 de fevereiro de 2024, durante a cúpula da União Africana, realizada na Etiópia.

Esses animais são assassinados e suas peles são arrancadas e vendidas por conta de seu colágeno, que é usado para produzir o ejiao, substância da medicina tradicional chinesa que supostamente traz benefícios à saúde humana, mas sem nenhuma comprovação científica.

A indústria do ejiao, após dizimar a população de jumentos na China, passou a importar milhões de animais todos os anos, de países da África, Ásia e América Latina. No Brasil, o abate de jumentos, mulas e cavalos foi regulamentado por decreto pelo então presidente da república Michel Temer, em 2017. De acordo com estimativas do IBGE, de lá para cá a população de jumentos no país foi reduzida em mais de 60%.

A proibição desse extermínio na África traz um importante precedente. ONGs e ativistas da causa animal têm agora um novo argumento para pressionar ainda mais os governos de outros países, inclusive no Brasil, para que tal prática seja igualmente proibida, seguindo o exemplo africano.

Um importante passo foi dado no domingo pelos líderes africanos. O próximo é que o abate seja proibido nos demais países que alimentam essa indústria cruel e fútil. Já o passo seguinte vai além de políticas bem-estaristas para os jumentos sobreviventes.

O que nós desejamos e defendemos é a libertação animal, para os jumentos e para todos os bichos. No caso dos jumentos, sua exploração é até romantizada, sendo ele considerado um herói nacional por seu suposto papel de exemplar trabalhador no país.

O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão
Ajudou o homem na lida diária
Ajudou o homem
Ajudou o Brasil a se desenvolver

Arrastou lenha
Madeira, pedra, cal, cimento, tijolo, telha
Fez açude, estrada de rodagem
Carregou água pra casa do homem
Fez a feira e serviu de montaria
O jumento é nosso irmão!

Esse trecho da música Apologia ao jumento (O jumento é nosso irmão), de Luiz Gonzaga, é uma pérola do cancioneiro especista. Sim, o jumento fez isso tudo o que foi citado e muito mais que isso. Mas ele não foi “o maior desenvolvimentista do sertão”, ele foi um animal explorado. Não ajudou o homem em nada, porque a ele nunca foi dada escolha, ele foi explorado. Foi e continua sendo. Imagina se não fosse “nosso irmão”!

A modernização do transporte levou ao abandono de inúmeros jumentos, que perderam sua “utilidade” para o bicho-homem (o que foi uma das motivações para os posteriores abates em massa e “uso” de suas peles no comércio exterior). Outros tantos continuam sendo explorados no Brasil e no mundo. E milhões são mortos em nome de uma medicina não baseada em evidências, mas na crendice popular e na vaidade humana.

Impedir essas mortes é um primeiro e importante passo. Mas não vamos parar aí. Os animais “racionais” precisam também parar de explorar esses (e os outros) animais. Políticas de bem-estar animal devem ser um passo rumo à libertação animal, e não um fim em si. Os jumentos não devem apenas carregar cargas menores, terem suas dores bem tratadas etc. Eles devem ter o direito a uma vida plena, vivendo seus comportamentos naturais, em liberdade. O ser humano pode e deve intervir em seus cuidados, mas no sentido de respeitá-los integralmente.

Semana passada mesmo tivemos o bem-sucedido desenlace de uma luta que durou mais de dois anos: o resgate das Búfalas de Brotas. Assim como os jumentos nordestinos, elas foram abandonadas à própria sorte pela substituição por uma atividade mais lucrativa. Mas, ao contrário deles, foram resgatadas e hoje estão vivendo totalmente livres da exploração humana, nos santuários Rancho dos Gnomos e Vale da Rainha.

Que os jumentos sejam salvos do abate e mandados para santuários. E que o bicho-homem entre de vez no século 21 e use máquinas para fazer o trabalho pesado que não consegue ou não quer fazer. Como exemplifica a canção de Eline Bélier e Maga Lee, Deixe em paz o jumento:

O animal é muito lento
E necessita de alimento
Produz muito excremento
A moto é a solução

Resumindo: deixem o jumento vivo, mas em paz também.

1 comentário em “União Africana proíbe o comércio de pele de jumento: um primeiro passo por esses animais”

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