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Jusé e Companheira

Um jumento e uma égua que passaram anos sendo explorados, foram resgatados, se conheceram e se tornaram amigos inseparáveis. Esse é o resumo da história de Jusé e Companheira. (E sim, é Jusé, com ‘ju’ de ‘jumento’!)

Vamos contar como foi o desenrolar dessas histórias até o final feliz, que muitos seres tão sencientes e merecedores quanto eles infelizmente não chegam a ter. Jusé e Companheira são hoje dois felizardos, mas percorreram um longo e difícil caminho para chegar até aqui.

Fim dos maus-tratos

Jusé foi encontrado por funcionários da prefeitura de Contagem (MG) numa rodovia, com fratura na pata. Foi então levado para o abrigo público. A ONG Brasil Sem Tração Animal (BSTA), em uma de suas visitas rotineiras a abrigos públicos, encontrou aquele jumento, à época sem nome, vivendo sozinho numa baia, já que não podia ficar junto de outros animais por estar em recuperação.

Antes de ser a companheira de alguém e de ter qualquer companhia que lhe trouxesse alguma alegria, Companheira foi encontrada pela presidente da BSTA, Fernanda Braga, vagando pelas ruas de Belo Horizonte em estado de abandono e negligência, comendo lixo. Como ela é uma égua pequena, a ativista acredita que não a quiseram por não servir para carroça, sendo então descartada.

Ao receber um novo animal, a ONG lhe dedica todos os cuidados, como verificar o estado de saúde, realizar exames de sangue e radiografias se necessário, chamar veterinário para ver os dentes, fazer casqueamento (a falta de casqueamento, ou quando malfeito, ocasiona problema de locomoção) etc. E tentam inserir o bicho na manada, com os antigos moradores. “Cuidamos da parte física e veterinária, mas também ajudamos na recuperação da confiança”, ressalta Fernanda.

Encontro, amizade e adoção conjunta

Tanto Jusé quanto Companheira foram acolhidos pela Brasil Sem Tração Animal. Os veterinários entenderam que a pata fraturada de Jusé não era um caso cirúrgico, e que ele seria um animal especial, com restrição de movimentos. Mas hoje ele tem uma vida quase normal. Além dos cuidados recebidos ao chegar e ao longo do tempo, um bom motivador em sua recuperação foi a chegada, após cerca de um ano, de uma égua caramelo, que logo se entrosou com ele…

Hoje Jusé e Companheira têm cerca de quatro anos, e, após passarem uma temporada com seus protetores da BSTA, encontraram um lar definitivo. Indignada com o abate de jumentos que vem ocorrendo no Brasil desde 2017 (“Não há nada que justifique esse assassinato em massa. Amorosos, pacíficos e inocentes, estão sendo dizimados por pura ganância de nossos dirigentes, a quem falta empatia, consciência e sabedoria. É uma vergonha para o Brasil e para a dita ‘humanidade’”), Nina Rosa estava buscando um desses animais para adotar. Foi então que os caminhos de Nina e Fernanda se cruzaram, por intermédio do Rancho dos Gnomos.

E, para que o vínculo estabelecido pela convivência entre o jumentinho e a eguinha caramelo não fosse quebrado, a adoção foi conjunta. E foi essa amizade que inspirou o nome da companhia preferida de Jusé: Companheira. Desde novembro de 2023, Jusé e Companheira vivem no sítio da Nina, um lugar desde sempre repleto de amor pelos animais, onde já viveram outros diversos seres inocentes salvos da crueldade humana, e que hoje é também a RPPN e ASAS Nina Rosa. “É uma grande alegria conviver com o Jusé e a Companheira”, celebra a ativista adotante dos dois amigos.

Dia de banho: o biólogo Daniel enxuga Companheira e oferece uma cenoura a Jusé

Clique aqui e conheça o cantinho de Jusé e Companheira.

Por um país sem tração animal

Fundada há três anos pela estudante de direito Fernanda Braga, a ONG Brasil Sem Tração Animal faz resgate de animais de grande porte, realiza ativismo jurídico e promove a conscientização da sociedade por meio de ações educativas.

A maior vitória foi na capital mineira, onde a ONG surgiu e vem trabalhando. Eles conseguiram ajudar a aprovar o PL 545/2023 que alterou a Lei 11.285/2021, que inicialmente previa a substituição das carroças por veículos de tração motorizada para janeiro de 2031, sendo adiantada para a partir de janeiro de 2026. Além dessa e de outras conquistas em Belo Horizonte, foi criada em Ibirité a política de recolhimento e auxílio veterinário de cavalos nas vias públicas. Em Nova Lima, o leilão de cavalos (que eram acolhidos e leiloados para nova escravidão) foi substituído por programa de adoção.

Ações civis também correm no Ceará, Paraíba, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, por meio da rede de advogados animalistas (especializados em direito animal) criada pela Brasil Sem Tração Animal, tendo como principal frente a luta contra as carroças no país.

Acompanhe as redes sociais da BSTA para ficar por dentro:

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Como ajudar outros Jusés e Companheiras

Adoção: para quem quiser adotar um equino, em qualquer estado do país, a Brasil Sem Tração Animal faz a ponte com os abrigos públicos locais e posterior encaminhamento.

Voluntariado: são sempre bem-vindos médicos veterinários, advogados e profissionais de comunicação (jornalistas, mídias sociais).

Doações: os gastos da ONG são 100% cobertos por meio de doações da sociedade civil. Você pode ajudar por pix (chave: [email protected]) ou pelo Apoia.se (apoia.se/bsta).

Assinatura da petição pelo fim das carroças no Brasil: assine aqui!

Denuncie maus-tratos (contra jumentos, cavalos e quaisquer outros animais): saiba como aqui.

A luta de Fernanda

Fernanda Braga resgata cães e gatos desde a pré-adolescência. Quando deparou, como protetora independente, com o movimento em Belo Horizonte pela proibição das carroças, se integrou e começou a participar. Segundo ela, ninguém tratava desse tema especificamente, então, já que nutria paixão pelos cavalos desde nova, começou a Brasil Sem Tração Animal e ampliou a atuação da capital mineira para todo o país.

Ela acompanha há um tempo o trabalho do Instituto Nina Rosa, e um dos primeiros documentários que viu sobre cavalos foi Vida de cavalo.

“Nós, de ONGs, tomamos o acolhimento desses animais maltratados porque a sociedade os rejeita, eles recebem projeção social do diferente que não está apto. Precisamos continuar unidos nessa frente contra a escravidão nas carroças e contra o abate de jumentos, essa prática que nada mais é que o assassinato de um animal que foi fundamental para o desenvolvimento do Brasil, embora nem deveria ter sido explorado como foi, e agora eles são exterminados por interesses estrangeiros de forma cruel e absurda, e o governo não coloca fim a essa aberração”, declara a presidente da Brasil Sem Tração Animal.

In memoriam: Serena

Antes de Jusé e Companheira, Serena foi um dos animais resgatados e cuidados por Nina em seu sítio, antes de ele virar uma RPPN e ASAS. Esta é sua história, nas palavras de sua salvadora: “Encontrei a Serena na subida da serra, numa estrada vicinal. Ela estava muito machucada, com o lombo em carne viva. Levei-a para o sítio e cuidamos dela e de seus ferimentos. Foi aposentada de qualquer tipo de trabalho e vivia livre. Depois de um tempo, apareceu um camarada lá dizendo que a égua era dele. Não quis discutir nem entregar Serena para ele, então ofereci algum dinheiro, que ele aceitou. Serena então viveu conosco, livre e protegida, até o final dessa sua existência.”

Fotos e vídeo: INR/Divulgação

1 comentário em “Jusé e Companheira”

  1. Pingback: Rosas - Instituto Nina Rosa

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