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Nem Drácula, nem Batman

Um morceguíneo! Mas é só uma forma carinhosa (com a devida licença poética à ortografia) de chamar esse simpático morceguinho, nenhum trocadilho infame com “sanguíneo”, pois ele não é um morcego hematófago, que se alimenta de sangue. Esse morcego insetívoro, que se alimenta de insetos, também foi encontrado durante a faxina na garagem de ferramentas da RPPN e ASAS Nina Rosa, onde minutos antes encontramos o sapo-cururu, cuja história já contamos por aqui. Assim como aquele anfíbio, esse mamífero alado foi removido para um lugar próximo para não ser incomodado com a faxina.

E assim como o sapo, o morcego é um animal que sofre com o preconceito de humanos, sob a forma de um medo que pode resultar em agressão contra esses animais. Mas isso também é uma injustiça. E lembramos que maus-tratos contra animais é crime, de acordo com a Lei no 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais) — veja aqui como denunciar.

Mais para Batman do que para Drácula

Existem cerca de 1.400 espécies de morcegos mundo afora e, destas, apenas três são hematófagas, predominantes nas Américas. Essas três espécies existem no Brasil, mas o predomínio no país é de morcegos frugívoros (que se alimentam de frutas), insetívoros (como esse que encontramos) e nectatívoros (se alimentam de néctar e pólen).

Os morcegos frugívoros dispersam sementes, ajudando no crescimento de novas árvores, enquanto muitas espécies de morcegos nectatívoros são polinizadoras, transferindo pólen entre as flores e ajudando na reprodução das plantas. Mais de 500 espécies de plantas são polinizadas ou dispersas por morcegos, incluindo a popular banana e o cacau, base do amado chocolate. As abelhas têm nossa estima e admiração por polinizarem o planeta, e os morcegos polinizadores merecem igual reconhecimento. Já os morcegos insetívoros como o nosso amigo desta postagem ajudam no controle da população de insetos, incluindo pragas em plantações.

Assim como no texto do cururu, vale lembrar aqui a participação dos insetívoros — bem como dos morcegos carnívoros e dos morcegos onívoros, e de outros animais com esses hábitos alimentares — no ciclo natural da vida. Não são animais dotados de uma inteligência um tanto superior e de “racionalidade” que, movidos por ganância financeira, aprisionam, torturam e matam em larga escala — com uso dos mais diversos instrumentos e outros meios artificiais — animais que consideram inferiores (ou que somente os consomem sem qualquer empatia pelo terrível sofrimento que passaram esses seres sencientes). Sua alimentação à base de outros animais realmente é necessária para eles e até para o meio ambiente — ao contrário do hábito alimentar de comer carnes e secreções animais que predomina entre os humanos, que não é o melhor para a saúde humana, causa imenso e desnecessário sofrimento a bilhões (anualmente) de seres inocentes e ainda destrói a natureza.

Medo de vampiro

O parágrafo anterior já mostra que são os animais não humanos (especialmente vacas/bois/bezerros, galinhas/galos/frangos/pintinhos, porcos, peixes e outros bichos) que devem temer os animais humanos, enquanto estes não aprendem a respeitá-los e poupá-los. Mas vamos falar aqui do medo infundado que o bicho-homem, que se considera praticamente um rei leão diante de outros animais, tem diante de alguns outros, até menores do que ele — no caso, o morcego.  

Ao contrário da crença popular, os morcegos hematófagos, popularmente conhecidos como morcegos-vampiros, não representam um perigo para nós. O nome pode parecer assustador e pensamos logo nos vampiros dos filmes de terror. No entanto, o temor não se justifica. Há alguns dias (29 de maio), uma cantora foi atacada por um morcego em pleno show na Espanha, mas ela não deu sorte mesmo, pois ataques contra humanos são extremamente incomuns — além de morcegos hematófagos serem raros na Europa. E não são fatais (e muito menos transformam os humanos mordidos em vampiros).

Animais não humanos são os principais alvos do morcego-vampiro. E eles tampouco viram vampiros ao serem mordidos. E os que morrem são aqueles que já estão com a saúde debilitada e/ou sofrem ataques recorrentes. O mal mais comum que um morcego hematófago pode causar a outros animais é a transmissão de raiva (e, mesmo assim, a maioria dos hematófagos não é portadora dessa doença).

Portanto, no raro caso de você, humano (ou seu animal de estimação), ser mordido por um morcego, basta procurar um posto de saúde (para humanos ou veterinário) para tomar uma vacina antirrábica como precaução, porque provavelmente nem mesmo o morcego estava raivoso. A forma mais comum de um humano contrair raiva é pela mordida de animais domésticos. O que nos traz a mais um lembrete: mantenha sempre em dia a vacinação dos seus amigos peludos. E não só a vacina antirrábica, mas também as demais (converse com o veterinário). E as tuas vacinas também (converse com o médico). Para nós e para os bichos, vacinas salvam vidas.

Respeito a todas as vidas

Quanto aos morcegos, até mesmo os vampiros têm sua importância na manutenção e equilíbrio de ecossistemas. Cada animal no mundo tem sua função na natureza. Os morcegos hematófagos ajudam, por exemplo, na seleção natural, ao predar animais doentes ou fracos, além de contribuir na fertilização do solo através de suas fezes.

Então nada de temer os morcegos. Esqueça o Drácula, pense mais no Batman. Se bem que o “Homem-Morcego” nem chega a ser um humano que teve uma interação radioativa com um bicho e ganhou superpoderes, como o Homem-Aranha. Ele só se veste de morcego mesmo, está mais para uma fantasia de carnaval. Pois então, veja como os morcegos, além de reais, são muito mais importantes do que o Batman! Respeite os caras.

Tudo depende do olhar de quem vê, e todos nós podemos mudar nosso olhar sobre os morcegos e sobre os animais em geral — e, consequentemente, nossas atitudes em relação a eles
(Imagem: meme de autoria desconhecida)

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